Conforme avisei neste blog na semana passada, na segunda-feira à noite participei de uma reunião entre respeitados empresários da mídia dita “alternativa” a fim de discutir algum modelo de organização entre blogs, sites, revistas e rádios.
Por ser fora da realidade dessa mídia a que me refiro, a televisão ficou de fora – justo esse meio que, sozinho, equivale a todos os outros juntos. Mas o fato é que televisão é só para o grande capital.
Enfim, apesar de estar disposto a me manter nesse tipo de reunião enquanto houver a menor possibilidade de se encontrar um caminho, às vezes a dificuldade de se produzir informação no Brasil me deixa um pouco desanimado, pois vejo que a coisa roda, roda e acaba desembocando no velho entrave da falta de recursos da esquerda.
Mas não importa, agora. O assunto está em discussão e duvido de que, no curto prazo, será possível encontrar um caminho. Quero tratar neste texto, portanto, de um assunto análogo, mas diferente.
Continuo me dispondo a mergulhar mais no tema que há anos domina as discussões neste blog e que até já gerou, a partir daqui, o Movimento dos Sem Mídia, pois quanto mais vou conhecendo a comunicação no Brasil mais vou construindo meu modelo ideal de comunicação e acho que vale a pena compartilhar o ponto de vista com vocês.
Um debate recorrente nos processos todos dos quais tenho participado nos últimos anos (minha análise autônoma e diária da mídia, estudos como os da Confecom ou os debates com produtores de mídia) é sobre se a mídia ideal deveria estar fragmentada por ideologia (entre direita e esquerda, por exemplo).
Vou concluindo que não. A vida moderna requer que se poupe tempo ao público. Se tenho que ler vários veículos para formar uma opinião política, por exemplo, ou descobrir para onde sopra o vento político, perco tempo numa época em que este, como nunca, é dinheiro.
Não seria excelente vocês lerem um jornal ou assistirem a um telejornal sem que, ao término da informação, achem que tentaram enrolá-los? Não seria magnífico se pudessem confiar plenamente na informação que estivessem recebendo?
Isso se chama credibilidade, e a da grande mídia, em toda a história, jamais foi tão questionada.
Creio que a mídia corporativa se corrompeu porque as novas tecnologias delegaram um poder enorme aos comunicadores. E o marco zero desse fato foi o surgimento da televisão. O poder que ela delegou foi tão grande que os empresários de outras mídias passaram o século XX buscando meios de ter uma.
Como havia pouco a distribuir e o Brasil foi atirado numa ditadura de duas décadas, os ditadores de plantão concederam televisões aos seus pares ideológicos – ou àqueles dispostos a se converter à ideologia “necessária” para se ter uma tevê.
O interessante é que aquelas concessões públicas que os poderosos de plantão concederam tornaram-se eternas, pois mecanismos legais então adotados impediram para todo o sempre a revisão delas.
Uma mídia “de esquerda”, portanto, só se justifica devido à necessidade de se conhecer os dois lados da moeda, necessidade que, apesar de hoje estar menos insatisfeita devido à internet, ainda está longe de ser atendida.
Todavia, uma mídia ideologizada, seja de esquerda ou de direita, não passa de vigarice, sobretudo quando se trabalha com concessões públicas, pois a maioria do nosso povo, ao menos, nem sabe o que é ideologia. Ou sabe?
Bem, tampouco importa. Até porque, essa mídia isenta (sem aspas) ainda é uma utopia das mais distantes que se possa conceber, pois o poder da mídia é grande demais, capaz de dar “retorno” demais para não ser usado por seu eventual detentor, seja de esquerda ou de direita.
A mídia de que o Brasil precisa, porém, deveria ser capaz de nos dar todas as informações e modelos de opinião sobre tudo sem tentar nos doutrinar tanto para um lado quanto para o outro.
Pode parecer pouca conclusão para muita reflexão, mas não é. Esse é o princípio a perseguir. O que queremos, os seres humanos, é receber a informação pronta para consumo, ou seja, sem armadilhas. Queremos ter os fatos e decidir o que fazer com eles.
Duvido que alguém discorde honestamente destas premissas. Mesmo os que se acham satisfeitos por a mídia grande lhes acariciar as idiossincrasias políticas e ideológicas sentem tanta falta do confronto de idéias que, quando o descobrem na internet, vão buscá-lo.
Alguns me chamam a atenção para como os direitistas que comentam neste blog me xingam, me acusam, mas estão sempre aqui, e para como eu critico a mídia corporativa mas, no fim, vou sempre até ela.
É porque o ser humano precisa do embate de idéias. É da nossa natureza. E digo mais: não queremos vencer adversários amarrados e amordaçados. Queremos o bom combate, os louros da vitória. No fundo somos todos assim, independentemente de ideologias.
http://edu.guim.blog.uol.com.br/Escrito por Eduardo Guimarães às 15h57
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